Choju-jinbutsu-giga: Uma Sinfonia de Sátira Animal e Humanidade em Papel

A arte japonesa do século IX fervilhava com uma energia singular, combinando a precisão da linha tradicional com um humor sutil que desafiava as convenções. Entre os artistas que brilhavam nesse período, destacam-se aqueles cujos nomes, curiosamente, começavam com a letra “L”. Um nome em particular se destaca, e é ele que nos conduzirá a uma jornada pelo universo da arte: “Choju-jinbutsu-giga”!

A obra em questão não é um simples desenho. É um rolo pictórico colossal, recheado de sátira inteligente e expressividade animal. Através de pinceladas delicadas, o artista Lekuan (1608-1697), mestre da escola Kano, capturou a essência da natureza humana, mas com um toque inusitado: personagens antropomorfizados em situações hilárias.

Imaginem ratos burocratas aprontando travessuras, coelhos zen meditando sob cerejeiras, e macacos bêbados organizando festas regadas a sakê! A “Choju-jinbutsu-giga”, traduzida como “Rolo de Animais Desenhados em Estilo Humano”, nos convida a refletir sobre a condição humana através da lente do fantástico.

Desvendando a Sinfonia:

O rolo, dividido em diversas seções, aborda temas variados que refletem os anseios, fraquezas e desejos da sociedade japonesa da época:

• A Corrupção: Uma cena emblemática mostra ratos vestidos de kimono, ocupando cargos burocráticos. Sua expressão debochada e a postura arrogante satirizam a corrupção dentro do sistema governamental.
• O Prazer Sensual: Uma outra seção apresenta macacos envolvidos em banquetes luxuosos. A gula desenfreada, representada por pratos de frutas e taças de sakê transbordantes, critica o excesso e a busca desenfreada pelo prazer material.
• A Busca pela Iluminação: Em contraste com as cenas anteriores, coelhos sentados em poses meditativas nos convidam a refletir sobre a natureza espiritual da vida. Essa seção sugere uma alternativa ao hedonismo exacerbado, oferecendo um caminho para a paz interior através do autoconhecimento e da contemplação.

Técnicas que Fascinam:

A maestria de Lekuan se manifesta em cada detalhe da obra:

Um Legado Atemporal:

A “Choju-jinbutsu-giga” transcende as fronteiras temporais e culturais. Essa obra-prima nos convida a rir de nós mesmos, questionar nossas motivações e buscar um sentido mais profundo na vida. Através do humor inteligente e da expressividade dos animais antropomorfizados, Lekuan nos oferece um espelho onde podemos refletir sobre a complexidade da natureza humana.

E assim, essa jornada pictórica pela “Choju-jinbutsu-giga” termina, deixando uma marca indelével em nossa mente. Uma obra que não apenas entretem e encantam, mas também nos desafiam a pensar de forma mais crítica e consciente sobre o mundo que nos rodeia.